Sonetos Selecionados
Esqueça...
Esqueça como amar se por agora
Os afazeres tomam teu momento
E o resplendor das ilusões lá fora
Devoram-te a razão do sentimento...
Esqueça teu sorrir, como quem chora,
E vibre de prazer pelos lamentos,
Esqueça o meu olhar e vá embora
E leve o meu amor na voz dos ventos...
Não te esqueças, porém, que a vida passa...
O anseio de partir que hoje te abraça
Poderá ser a angustia dos seus dias!
E saberás também, já muito tarde,
Que o verdadeiro amor não é covarde
E agora és infeliz, por covardia!
Ciro di Verbena
Canção das Horas
Vou caminhando pela vida afora,
Frágil criança de desejos tantos
E no acalanto da canção das horas
Vivo da vida apenas seus encantos!...
Sinto as delícias no prazer do agora
Vivendo a gloria de cantar meus cantos
E se minha alma por instantes chora
São meus desejos transbordando prantos!
Vou pelo mundo a desvendar caminhos
Colhendo flores, pisando os espinhos,
Seguindo a trilha que me foi traçada...
E ando feliz sorvendo a minha sina
Pois desta vida frágil, pequenina,
Ao fim de tudo ninguém leva nada!
Ciro di Verbena
Medo
Como vencer o medo intermitente,
O medo de sorrir e de viver,
O medo de sonhar intensamente,
A cada vez que um novo sol nascer?!...
O medo a perdurar sempre latente
De um monstro pequenino a nos roer
Primeiro o coração, depois, a mente,
Um ser qual não nos cabe o dom de o ver...
Talvez o modo certo e mais preciso
Seja a magnitude de um sorriso
Na exata sensatez de um ser humano...
Que a força desse vírus invisível
Possa fazer enfim tornar possível
Reverberar no olhar o quanto amamos!
Ciro di Verbena
Caminhos...
Andei perdido em tolos pensamentos,
Buscando no horizonte uma chegada,
Marcando o espaço com meus passos lentos,
Escravo de minha alma enamorada...
Fui serviçal do amor, de um sentimento,
Que mesmo sendo tudo não é nada;
Às vezes, dia cinza e sonolento,
Depois, noite feliz e enluarada!
Se escravizado assim, andei perdido,
Jamais soube sentir-me arrependido
Por ter te amado assim mais do que pude...
Se eu me perdi nesse caminho escuro
Também achei o Éden que procuro
E em nosso amor a eterna juventude!...
Ciro di Verbena
Morrendo de Amor...
Não se morre de amor rapidamente
Feito luz que se apaga na varanda,
Morre-se aos poucos, sempre, lentamente,
De uma morte sutil, pausada e branda...
Nem se morre de amor completamente
Pois que um sopro de vida ainda comanda
Um resto de prazer quando se sente
Da esperança o perfume de lavanda!
Ao morrer-se de amor, a vida passa;
A gente nem percebe que a alegria
Caminha sempre ao lado da desgraça!
A vida inteira é tola fantasia;
Por mais que se não queira ou que se faça
Morre-se por amor todos os dias!
Ciro di Verbena
O Poeta é Eterno...
Quando me invade a mesquinhez pequena
É meu dilema sórdido e pulsante,
No mesmo instante em que acontece a cena,
Outro poema nasce delirante!...
Vou sobre as asas desse vil poema,
Qualquer esquema é libertário e errante;
A todo instante indiferente ao tema,
Se me envenena o versejar vibrante!
Eu vou bebendo esse veneno forte
E minha sorte é que o poeta é eterno;
Fugir do inferno é minha triste sina!
Não que eu renegue ou não mereça a morte,
Nem me conforte meu poema terno...
- É que alcançar o etéreo me fascina!...
Ciro di Verbena
Na Dança do Tempo
Enquanto eu bailava sob a primavera
O tempo passava depressa por mim,
Levava nos braços o amor que eu quisera
Viver uma história de sonho sem fim!...
O tempo, mortal, feito abraço de fera;
Veneno fatal disfarçado em jasmim,
Levava pedaços de minhas quimeras
Meu “Deus”, quem me dera ser feliz assim?
Eu não percebi que na dança do tempo
Meus sonhos ao vento fugiam ligeiros
No olhar derradeiro do deslumbramento!...
O cheiro de “Adeus” era um tiro certeiro,
E enquanto, faceiro, beijava-me o vento,
Era eu quem, de triste, morria primeiro!...
Ciro di Verbena
Na Idade das Flores
A noite vencia!...Na doce magia
Qual linda aquarela estampada em brilhantes
Chegava assim bela, tão plácida e fria;
Madona envolvida em lençol de diamantes...
Em meio às estrelas um rastro surgia...
Ligeiro sumia nos campos distantes;
Um rastro de luz refletindo poesia:
Intrépido sonho feliz dos amantes!
A noite passava sorrindo aos poetas...
Havia um lascivo bailado de amores
E flores sugando o prazer de outro dia!
Havia na noite rumores de festas
E o jovem boêmio na idade das flores
Cantava, dançava, fumava e bebia!
Ciro di Verbena
A Vida é uma Ilusão...
A vida é uma ilusão que se completa,
Pedaço por pedaço a cada instante;
Aos poucos, vem nos versos de um poeta,
Vem lenta, vem dispersa, vem constante...
A vida as vezes vem fazendo festa
Vem rápida, girando, vem dançante;
Certeira e pontiaguda como seta
No peito dos quixotes delirantes...
Ligeira ou lentamente a vida passa
E o tempo, qual criança, por pirraça,
Nos leva segurando pelas mãos...
A vida que foi feita de momentos
E agora se faz sonho solto ao vento
Dissipa-se nos braços da razão!
Ciro di Verbena